História

RABÕES – OS BARCOS DE TRANSPORTE DO CARVÃO

RABÕES E MARINHEIROS DA ESQUADRA NEGRA
Provavelmente, muito poucas pessoas associarão as Minas do Pejão a algum tipo de embarcação e seus tripulantes.
Todavia, é injusto falar da História das Minas do Pejão sem fazer referência a dois dos seus míticos – e também desconhecidos/esquecidos – símbolos: o barco rabão e os seus valorosos tripulantes.
1 – O RABÃO
Sendo uma ampliação do “rabão branco” e adaptado do rabelo, mas diferindo deste, o rabão carvoeiro foi concebido para ser utilizado exclusivamente no transporte do carvão de Germunde/Pedorido até à cidade do Porto, daí seguindo para várias unidades industriais do país.
O rabão carvoeiro, também construído e reparado no areio de Concas,/Pedorido, com uma relação umbilical à História do carvão paivense, foi a última embarcação icónica a subir e a descer o rio Douro.
entre 1953 e 1955, a Empresa Carbonífera do Douro tinha 46 rabões e ao seu serviço 52 barcos de particulares.
Escritos de parte dessa época (anos 1955) referem que os muitos rabões então existentes faziam uma média anual de 5300 viagens e que essa frota carvoeira percorreria cada ano 392.000 km, ou seja, perto de dez voltas à Terra, pela sua circunferência maior.
Eram os famosos e emblemáticos rabões da esquadra negra…
2 – AS VIAGENS
Os relatos da época indicam que tudo começava em Germunde.Aí, o carvão jorrava da boca de um canal para os barcos que, depois, iniciavam a viagem Douro abaixo até ao Porto.
As viagens dos rabões eram feitas utilizando as marés: partiam quando elas vazavam, regressando quando começavam a subir.
No inverno, quando o rio ia alto, carregados com 40, 50, 60 toneladas de carvão, os rabões faziam a viagem em 4 a 5 horas. No regresso, era o rebocador “Pejão” que puxava os rabões, já vazios.
No verão, tudo era diferente. Como o rio andava baixo, uma viagem podia demorar 7 a 8 horas, incluindo o tempo dos trasfegos. Nessas adversas circunstâncias de navegação, os rabões partiam de Germunde com cargas menores, dirigindo-se para Pé de Moura/Gondomar. Aí, o carvão era trasfegado para outros barcos, que depois zarpavam para o Porto, regressando os outros rabões a Germunde.
3 – A TRIPULAÇÃO
Quando o rio ia baixo e não permitia que o rebocador “Pejão” (e, mais tarde, o rebocador “Fojo”), rebocasse os rabões, a viagem de retorno do Porto a Germunde fazia-se à vela, à vara e com pás de remar (remos).
Essa subida do Douro era uma luta violenta e dura para a tripulação do rabão, constituída por um arrais e três marinheiros.
Nos baixios, sob um sol inclemente, com a quilha a zorrar no fundo do rio, era preciso um esforço hercúleo para avançar. À força de braços, manobrando as varas e puxando o cordame, feriam os pés descalços nas pedras e laceravam a pele do corpo.
No Douro desses anos duros, juntamente com a água doce corria o suor e o sangue desses homens admiráveis.
Rezam as crónicas que esses companheiros de canseiras e perigos passavam bem metade da sua vida dormindo debaixo do toldo que todas as noites era armado no barco, cozinhando as suas refeições na velha panela à portuguesa, bebendo o vinho verde por cabaças, “matando o bicho” com bagaceira, que no inverno o frio era intenso e enregelava até os ossos, encharcado a chuva os
corpos.
Ainda está por contar a história desses homens extraordinários. Ainda está por fazer a homenagem à sua vida de valentia, agruras, sacrifícios e superação.

O Movimento Cidadãos do Mundo, de Castelo de Paiva, surgiu em março de 2018.Objetivos:realizar e apoiar iniciativas de âmbito cívico, recreativo, educativo, ambiental, desportivo e cultural.

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